Espanha - México

Os limites da responsabilidade corporativa

Nem que FEMSA se cubra de ouro…

 

Não conheço pessoalmente José Antonio Fernández Carvajal, presidente da FEMSA (Fomento Económico Mexicano Sociedad Anónima), empresa mexicana fabricante de bebidas, entre elas a Coca-Cola. É provável que seja alguém que se considere muito ponderado, inteligente, hábil, um executivo experimentado e um laborioso chefe de família.

 

Estas intuições sobre a autopercepção de José Antonio não são meras especulações, surgem da leitura atenta de alguns dos conceitos que ele expôs recentemente na cidade espanhola de Oviedo, onde foi realizado o “1º Congresso Europa-América de Responsabilidade Corporativa” organizado pelo “Clube de Excelência em Sustentabilidade”, integrado por empresas e várias “faculdades de negócios” de ambos os continentes.

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29-06-2006

 

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Con Roberto Mendoza, despedido de
Coca Cola FEMSA

 

Por

Carlos Amorín

 

A premissa cunhada pelos organizadores foi: “A responsabilidade corporativa se converteu em uma nova ferramenta de gestão empresarial. A cada dia, mais empresas estão integrando práticas responsáveis em sua estratégia de negócios, e aspectos que até pouco tempo se consideravam técnicos, como os sociais e ambientais, que hoje são pontos-chave na gestão da empresa”.

 

A iniciativa surge a partir de uma constatação: os grupos que questionam a ética do lucro a todo e qualquer custo conseguem influenciar as decisões de alguns investidores. Assim, as práticas produtivas que destroem o ambiente ou colocam em perigo as comunidades locais, a hiperexploração das maquias ou a utilização de mão-de-obra infantil começam a ser evitados pelos fundos de investimento. Em época de globalização, a imagem pública é tudo.

 

A preocupação por tais temas, entretanto, surge pelo peso não na consciência, mas no bolso. Eduardo Montes, presidente do Clube de Excelência em Sustentabilidade explica assim isso: “As empresas deveriam ser um bom cidadão, ou um bom cidadão do ambiente em que operam”. Não se trata, diz, de um assunto de filantropia, mas também de negócio. “Estar bem integrados ao ambiente, vinculados à sociedade, vai nos permitir crescer mais, vender mais e ganhar mais”.

 

José Antonio vai inclusive mais longe: “Deve ser possível nos anteciparmos aos temas que preocupam a sociedade e que são temas-chave para as empresas”, propõe.

 

Talvez pense que se trata apenas de uma moda passageira, uma espécie de esnobismo. Mas seja como for, “Agora os investidores perguntam pelo ambiente, querem saber se a sua empresa oferece emprego a pessoas deficientes ou se há igualdade de oportunidades para homens e mulheres”, relata.

 

Antonio não disse isso em Oviedo, mas a empresa que preside sabe destas “novas tendências”. Por exemplo, agora sabe que não é coisa de “bom cidadão” discriminar as pessoas e criar obstáculos à carreira de um empregado por sua orientação sexual. Isto lhes está sendo ensinado por Roberto Mendoza, despedido da Coca-Cola FEMSA por ser homossexual, o qual está processando a empresa nos tribunais do México. Apesar de tentarem se esquivar da justiça, já são vários os executivos da corporação que tiveram que depor no tribunal que julga o caso, cuja resolução, segundo tudo indica, será favorável a Mendoza.

 

José Antonio, e a própria FEMSA, já se deram conta de que os investidores, e cada vez mais os consumidores, também se preocupam se a igualdade de oportunidades para homens e mulheres faz algum tipo de distinção entre heterossexuais e homossexuais. É bem possível que José Antonio já esteja tomando as medidas adequadas para que nunca volte a ocorrer algo assim na empresa que preside, porque a “boa cidadania” começa em casa e hoje em dia já não basta parecer, também tem que ser. 

Carlos Amorín

© Rel-UITA

4 de julho de 2006

Carlos Amorín

 

 

 

* Com informação de A Jornada.

 

 

 

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