A premissa cunhada pelos organizadores foi: “A
responsabilidade corporativa se converteu em uma
nova ferramenta de gestão empresarial. A cada dia,
mais empresas estão integrando práticas responsáveis
em sua estratégia de negócios, e aspectos que até
pouco tempo se consideravam técnicos, como os
sociais e ambientais, que hoje são pontos-chave na
gestão da empresa”.
A iniciativa surge a partir de uma constatação: os
grupos que questionam a ética do lucro a todo e
qualquer custo conseguem influenciar as decisões de
alguns investidores. Assim, as práticas produtivas
que destroem o ambiente ou colocam em perigo as
comunidades locais, a hiperexploração das maquias ou
a utilização de mão-de-obra infantil começam a ser
evitados pelos fundos de investimento. Em época de
globalização, a imagem pública é tudo.
A preocupação por tais temas, entretanto, surge pelo
peso não na consciência, mas no bolso. Eduardo
Montes, presidente do Clube de Excelência em
Sustentabilidade explica assim isso: “As empresas
deveriam ser um bom cidadão, ou um bom cidadão do
ambiente em que operam”. Não se trata, diz, de um
assunto de filantropia, mas também de negócio.
“Estar bem integrados ao ambiente, vinculados à
sociedade, vai nos permitir crescer mais, vender
mais e ganhar mais”.
José Antonio vai inclusive mais longe: “Deve ser
possível nos anteciparmos aos temas que preocupam a
sociedade e que são temas-chave para as empresas”,
propõe.
Talvez pense que se trata apenas de uma moda
passageira, uma espécie de esnobismo. Mas seja como
for, “Agora os investidores perguntam pelo ambiente,
querem saber se a sua empresa oferece emprego a
pessoas deficientes ou se há igualdade de
oportunidades para homens e mulheres”, relata.
Antonio não disse isso em Oviedo, mas a empresa que
preside sabe destas “novas tendências”. Por exemplo,
agora sabe que não é coisa de “bom cidadão”
discriminar as pessoas e criar obstáculos à carreira
de um empregado por sua orientação sexual. Isto lhes
está sendo ensinado por Roberto Mendoza, despedido
da Coca-Cola FEMSA por ser homossexual, o
qual está processando a empresa nos tribunais do
México. Apesar de tentarem se esquivar da justiça,
já são vários os executivos da corporação que
tiveram que depor no tribunal que julga o caso, cuja
resolução, segundo tudo indica, será favorável a
Mendoza.
José Antonio, e a própria FEMSA, já se deram
conta de que os investidores, e cada vez mais os
consumidores, também se preocupam se a igualdade de
oportunidades para homens e mulheres faz algum tipo
de distinção entre heterossexuais e homossexuais. É
bem possível que José Antonio já esteja tomando as
medidas adequadas para que nunca volte a ocorrer
algo assim na empresa que preside, porque a “boa
cidadania” começa em casa e hoje em dia já não basta
parecer, também tem que ser.
Carlos Amorín
©
Rel-UITA
4
de julho de 2006 |
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