Rafael Serrano e Juan Ramón
Durán, juntos, contabilizam
51 anos de trabalho na
fábrica da Nestlé de São
Francisco. O gerente local,
Karl Brodbeck, iniciou uma
estranha “cruzada” para
conseguir a demissão destes
dois trabalhadores e
sindicalistas. O caso está
nas mãos da Justiça do
Trabalho, devendo ser
decidido nesta semana. Sirel
dialogou sobre o caso com
José "Pepe" Abreu,
presidente da Confederação
Nacional de Unidade Sindical
(CNUS), mobilizada, em razão
deste conflito, em apoio ao
Sindicato dos Trabalhadores
da Nestlé de San Francisco
de Macoris (SITRANESTLÉSF).
-A que se
deve a sua presença em San
Francisco de Macoris?
-Estamos aqui com o
secretário-geral da
Confederação, José de los
Santos, realizando uma
conferência de imprensa, uma
ação de solidariedade com os
companheiros do sindicato da
Nestlé de San
Francisco.
Queremos alertar à empresa
de que uma medida como essa
não afeta apenas os
companheiros Serrano e Durán,
pois a sua implementação é
um atentado à liberdade
sindical em geral, isto é,
uma ação que visa a destruir
o SITRANESTLESF.
Devido à trajetória que esta
organização tem, assim como
aos próprios trabalhadores
envolvidos neste conflito,
não podemos ficar
indiferentes a nível
nacional. A atitude da
empresa nos motiva a fazer
pressão para a revogação
desta medida. Por isso,
estamos nos preparando para
realizar ações em frente das
instalações da empresa em
Santo Domingo, além das que
já estão sendo feitas em São
Francisco.
-Quais são os
argumentos da Nestlé?
-A empresa pôs estes dois
companheiros nas mãos dos
juízes, devido a uma
discussão de rotina com um
gerente, que adota métodos e
tem um estilo de gestão que
busca subjugar, provocar e
perseguir o trabalhador.
Não foi por acaso que, no dia
seguinte a esta provocação, foi
agendada uma reunião
transcendental com a Gerência
máxima da Nestlé para analisar
questões estratégicas. Esta
reunião foi suspensa. |
Não foi por acaso que, no
dia seguinte a esta
provocação, foi agendada uma
reunião transcendental com a
Gerência máxima da Nestlé
no país, para discutir os
problemas estratégicos dos
trabalhadores e da própria
empresa.
É uma coincidência muito
estranha que estes
companheiros sejam tão
grosseiramente provocados,
justo nesse dia. Apesar
disso, a reação dos
trabalhadores foi comedida,
mas foi fabricado um
incidente para suspender a
reunião e, aproveitando o
ensejo, por em discussão a
denúncia relativa ao emprego
dos dois trabalhadores. A
reunião também foi suspensa.
-Qual é a
questão de fundo nesta
denúncia?
-Este gerente é um ponta de
lança que quer provocar uma
confrontação. A organização
sindical tem sido
inteligente porque vem
buscando a
mediação. Intervieram o
arcebispo, a governadora da
província e o
vice-presidente da
República, que ligou
pessoalmente para a empresa
e solicitou que se
procurasse uma solução
negociada. Mas
a Nestlé não fez nenhuma
proposta, e só aceita a
demissão dos dois
companheiros.
Os juízes têm
em mãos uma decisão muito
importante, porque deles
dependerá, agora, como se
mede neste país o respeito à
liberdade sindical.
-O que o
Sindicato reivindica neste
momento?
- Estamos propondo que
retorne a tranquilidade
trabalhista em San Francisco
de Macorís e no país,
repondo os companheiros aos
seus devidos postos de
trabalho, usando de um
raciocínio lógico, porque
são funcionários que,
juntos, têm 51 anos de
trabalho--Serrano 25
años y Durán 26.
Ninguém pode imaginar que,
se não fossem bons
trabalhadores, teriam durado
tanto tempo na Nestlé,
cujos padrões de eficiência
são exigentes para o
pessoal.
São trabalhadores
tecnicamente preparadas para
desempenhar o seu trabalho,
com vasta experiência em
relações de trabalho, para
cometer um erro tão grande
como este de que são
acusados. Por isso,
esperamos que o Tribunal se
pronuncie, por unanimidade,
pela preservação da paz no
trabalho.
-Quando o
Tribunal irá se pronunciar?
-Já está correndo desde a
segunda-feira passada, 15 de
novembro, havendo um prazo
de cinco dias para a
decisão. Nós temos sido
muito flexíveis e abertos ao
diálogo com a empresa, mas
ela preferiu encurralar os
juízes diante desta decisão,
sem fazer nenhuma
contraproposta.
Um atentando ao SITRANESTLESF é
também um atentado ao movimento
sindical dominicano |
-Por que você diz que os
juízes estão encurralados?
-Como estamos lidando com um
gerente que diz: “Ou eles ou
eu”. Um gerente, que quer a
liderança social em uma
fábrica, logicamente vai se
chocar com o sindicato que
tem seus líderes naturais
reconhecidos e respeitados
pelos trabalhadores. Mas,
inclusive, a disputa neste
caso não está posta de uma
forma saudável, pois difama
os companheiros, chama-os de
arruaceiros e lhes atira
pedras, praticamente
acusando-os de terrorismo,
quando toda a comunidade de
São Francisco reconhece o
SITRANESTLESF como um dos
seus símbolos.
Este Sindicato tem
demonstrado possuir uma
grande força, porque nunca
se desvinculou de suas
raízes e de sua história. Um
atentado dessa natureza
contra o SITRANESTLESF
também é contra todo o
movimento sindical
dominicano.
-Isto pode ser parte de uma
estratégia para fechar a
fábrica?
-As condições desta fábrica
nunca foram tão boas como
agora, já que nós mesmos
participamos de gestões que
foram feitas junto ao
governo nacional para
resolver alguns problemas de
competitividade colocados
pela Nestlé. Foi consolidada
uma posição de liderança no
mercado e, atualmente, está
operando a plena capacidade.
Aliás, não dão conta de toda
a demanda que têm.
Isto quer dizer que, neste
Sindicato, há uma atitude
não só de combate em defesa
dos direitos dos
trabalhadores, como também
um comportamento de
identificação com a
empresa. Nem mesmo como
ameaça, poderiam pensar na
alternativa de fechamento
desta planta.
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