Pediu proteção ao programa que garante segurança a testemunhas,
mas
o pedido foi negado.
A Justiça
Estadual do Pará deve marcar uma nova audiência no final de janeiro para
ouvir o lavrador Francisco Martins
da Silva. Ele é a principal testemunha no processo que apura
o assassinato de José Dutra da Costa,
o Dezinho,
presidente do Sindicato de Trabalhadores
Rurais de Rondon do Pará,
em novembro de 2000.
Silva não
compareceu ao Fórum de Rondon do Pará (PA) no dia 12 de dezembro para
prestar depoimento temendo ser assassinado.
A testemunha pediu proteção ao programa que
garante segurança a testemunhas e parentes de vítimas de crimes violentos (Provita),
mas o pedido foi negado.
A Comissão
Pastoral da Terra (CPT),
a Diocese de Marabá, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri/PA) do Pará e o Sindicato de Trabalhadores Rurais
de Rondon do Pará criticaram a decisão do programa de proteção à
testemunhas. Segundo a nota, o Provita não fundamentou a recusa e deixou
Silva entregue à sua própria sorte. As entidades recorreram à
Anistia Internacional,
Comissão de Direitos Humanos da
Organização dos Estados Americanos (OEA) e à
Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça.
Denúncia à OEA
O acusado
de mandar matar o sindicalista é
Décio Barroso Nunes, o
Delsão. O fazendeiro já foi
pronunciado, mas uma promotora pediu sua exclusão do processo. A Anistia
Internacional e entidades de direitos humanos protestaram contra a ação do
Ministério Público, que favorece
Delsão. As decisões tomadas pelo Ministério Público e
Provita já foram relatadas à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que
abriu um processo contra o governo brasileiro pela demora na apuração do
crime.
As
entidades avaliam que, caso a decisão não seja revista, a principal
testemunha do assassinato de Dezinho,
além de não se apresentar ao juiz de Rondon do Pará, não poderá comparecer
ao Tribunal do Júri se algum mandante ou intermediário for julgado. Caso
isso ocorra, as chances de condenação dos acusados do crime serão remotas,
abrindo caminho para a impunidade. “Inexplicavelmente, isso ocorre no
momento em que a promotora, que responde temporariamente pelo Ministério
Público local, requereu a impronúncia do pecuarista
Décio Barroso, principal
acusado de ser o mandante do crime”, ressaltam CPT, Fetagri/PA e STR de
Rondon.
Foi graças
ao testemunho de Silva
que a polícia chegou ao acusado de ser o mandante do crime. Além de
apontar o pecuarista como principal responsável pela morte do sindicalista,
ele relatou o envolvimento de Delsão no assassinato de outras cinco pessoas
que trabalhavam em suas serrarias em Rondon do Pará. À época do crime, Silva
foi incluído no Provita, onde permaneceu por cerca de dois anos.
Como o
processo ficou suspenso por quase três anos, ele solicitou seu desligamento,
alegando dificuldade de permanecer com toda sua família por tanto tempo no
programa. Desde então, passou a residir em outro estado. Com a retomada do
processo e a inclusão de outros acusados de participação no crime, foi
necessário ouvir Silva novamente em juízo.
CONTAG
29 de janeiro de 2006