Sobre a crise que a empresa
avícola Doux, de origem francesa, está atravessando no Brasil, Sirel conversou
com Vanessa Perrotin, secretária federal do Setor das Carnes e Avícolas da
Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), para comparar a realidade
da companhia em ambos os países.
-No Brasil a Doux
está passando por uma crise profunda e, de fato, acabou por abandonar os
criadores de aves que produzem para ela. Qual é a situação lá?
-Aqui na
França, a empresa Doux não está enfrentando os mesmos problemas que
no Brasil. É importante notar que esta companhia não faz parte de
qualquer federação patronal. É o que poderia ser definido como o mau aluno da
sala-de-aula, e também em termos de política social.
Com referência aos problemas concretos que existem hoje no Brasil,
podemos afirmar que não está se dando o mesmo processo, pois todas as fábricas e
criadouros estão sendo devidamente abastecidos.
O que existe de fato são as repercussões na folha de pagamento dos
trabalhadores, devido ao elevado preço das matérias-primas para fabricar os
alimentos e para os animais.
Esta é uma questão muito importante na Europa de hoje. Existem também distorções
de competitividade na Europa, especialmente na Alemanha, devido às
diferenças nas taxas fiscais e porque a mão-de-obra é mais barata lá do que, por
exemplo, na França. Estes são alguns dos principais aspectos que estão
impactando fortemente nas empresas do setor na França.
-A informação disponível no Brasil é que a Direção Geral da Doux não toma
medidas para lidar com um forte endividamento. Fala-se até da possibilidade da
venda da empresa.
-Eu acredito
que pode haver alguma relação como um efeito da Política Agrícola Comum (PAC)
da União Europeia (UE) e da reforma da Restituição à Exportação
atualmente em processo. Este é um subsídio que a Doux recebe da UE
por importar frango a partir das suas instalações no Brasil.
-Qual é o montante do
subsídio?
-Cerca
de 800 euros por tonelada. Mas o problema é que, a partir de 2013, este subsídio
não existirá mais.
É talvez sintomático que,
sobre este tema específico, a Direção da Doux na França não queira
dialogar com o Sindicato em hipótese alguma. Quando os nossos companheiros
perguntam sobre a situação do mercado da Doux no Brasil e dos
negócios ligados a ele, a Doux se recusa a responder. É possível que
esses acontecimentos estejam vinculados.
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