Com Eila Kämäräinen e Henri Lindholm, da SEL
“Queremos mudar as coisas
no setor avícola” |
Henri Lindholm é secretário geral da Federação
de Trabalhadores da Alimentação da Finlândia
(SEL) e, junto a Eila Kämäräinen, são
responsáveis pelas Relações Internacionais da
organização. Eila também representa a Federação
no Centro de Solidariedade Sindical da Finlândia
(SASK). O diálogo com eles aconteceu na recente
Oficina realizada em São Paulo, organizada pelo
Centro de Solidariedade Sindical da Finlândia,
pela SEL e pela Rel-UITA.
-¿Cómo é a SEL?
Henri Lindholm
(HL) -Atualmente tem uma adesão de 36.500
trabalhadores e trabalhadoras exclusivamente do
setor industrial, já que o setor rural está em
outro sindicato. Isto inclui os filiados
desocupados e os aposentados que continuam
integrando os sindicatos.
Nos últimos anos perdemos de 10 a 15 mil
membros, devido exclusivamente devido ao fato de
a produção estar se concentrando em unidades
maiores e com menos empregados.
-Qual é a taxa de sindicalização?
HL
–Aproximadamente 80 por cento dos trabalhadores
e trabalhadoras estão sindicalizados.
-Quais os setores que estão incluídos na
Federação?
HL
-Contamos com cinco Convênios Coletivos a nível
nacional: indústria da carne, incluindo a
avícola, panificação, laticínios, bebidas e
refeições pré-preparadas.
-Como a crise global os atingiu?
HL
-A crise chegou na Finlândia, sim, mas
ainda não no nosso setor que, tradicionalmente,
sente os efeitos somente um ou dois anos depois
dela ter atingido o resto do país. Apesar de
tudo, as pessoas sempre terão que continuar se
alimentando e, na Finlândia, temos um
sistema social e de seguro de desemprego que
inclusive permitem às pessoas mais carentes se
alimentar, e isso faz com que, no início, não
sintam tanto a crise. A crise é percebida também
pelo fato de, nesses períodos, as pessoas
comprarem produtos mais baratos do que antes,
passando a cozinhar mais em casa e a comer menos
em restaurante.
Claro que participaremos da campanha
internacional da UITA com todas as nossas
forças, porque essas mudanças não devem ser
somente no Brasil e na Finlândia, mas em todo o
mundo. |
-Por que existe esse interesse por conhecer as
condições de trabalho das avícolas brasileiras?
HL
-Quando participamos do último Congresso Mundial
da UITA, em março de 2007, pudemos
assistir a apresentação feita pelos sindicatos
brasileiros sobre as condições de trabalho nas
avícolas aqui, e ficamos muito impactados.
Também porque a importação finlandesa de carne
de ave brasileira aumentou bastante nos últimos
tempos. Há, inclusive, uma marca finlandesa que
a vende com a sua própria denominação; como a
carne é condimentada na Finlândia antes
de ser vendida, já não é necessário informar
qual é a sua origem, portanto o consumidor
ignora de onde vem esse produto. Nestes casos,
nossa Federação se preocupa com as condições de
produção tanto na Finlândia como no
Brasil.
Em junho do ano passado já tivemos uma primeira
reunião em Porto Alegre, e agora queremos
consolidar esses laços para empreender ações
conjuntas.
-As condições de trabalho nas avícolas da
Finlândia são similares às do Brasil?
HL
–No ano passado visitamos uma fábrica da empresa
Perdigão no Rio Grande do Sul e
percebemos que, em geral, as condições de
trabalho são bastante semelhantes, mas
observando mais detalhadamente, vimos que a
quantidade de acidentes de trabalho e o índice
de faltas por doenças vinculadas ao trabalho são
bem maiores aqui do que na Finlândia.
Ou seja, há uma diferença de grau de impacto.
Talvez na Finlândia a produção esteja
mais mecanizada que no Brasil e lá
utilizem menos mão-de-obra. Em termos de tamanho
há muita diferença entre ambos os países, já que
nós só temos três plantas avícolas grandes.
-¿Qual é a incidência das Lesões por Esforços
Repetitivos (LER)?
HL
–Se compararmos com o Brasil, nossa
incidência é menor, mas dentro da Finlândia,
em relação a outros setores industriais, temos
muitas doenças originadas pelos trabalhos
repetitivos e, por causa disso, muitas vezes os
trabalhadores e trabalhadoras precisam se
aposentar prematuramente.
-Qual a porcentagem de mulheres trabalhadoras no
setor?
HL
-No setor de carne vermelha há menos de 50 por
cento. Em algumas tarefas, como abate e corte,
90 por cento são homens, enquanto que, no setor
de embalagem, a maioria é de mulheres. No
setor avícola, pelo contrário, as mulheres são
maioria em todas as tarefas, incluindo abate. É
provável que cheguem a 65 por cento do total de
empregados.
-Quais são os eixos principais do projeto que
será desenvolvido no Brasil?
HL
-Para nós seria interessante, já que temos os
mesmos problemas, continuar realizando esse
intercâmbio de informações e de dúvidas. Na
Finlândia temos algumas boas experiências de
atuação em matéria de segurança no trabalho no
nível de empresas e gostaríamos de compartilhar
essas experiências com os sindicatos brasileiros
e, também, queremos aprender a partir dos êxitos
obtidos aqui, para ver como podemos melhorar em
nossas fábricas.
Do ponto de vista histórico, os sindicatos da
Finlândia demoraram muito em entender que
nossos pontos de interesse não são somente os
aspectos remuneratórios, mas também, por
exemplo, a segurança e as condições de
trabalho.
Eila Kämäräinen
(EK) –Com respeito à cooperação
internacional, na atualidade os sindicatos
interagem a nível global exigindo trabalho
decente para todos os trabalhadores e
trabalhadoras do mundo. Esse deve ser nosso
objetivo em todas as nossas atuações.
-Como vocês irão participar da campanha
internacional contra o ritmo de trabalho nas
avícolas brasileiras?
HL
-Na Finlândia a Federação já está
divulgando informação sobre as condições de
trabalho no Brasil, e já imprimimos uma
brochura como ferramenta de comunicação
sobre esse tema, entretanto é lógico que a
maioria das pessoas não saiba como são as coisas
no setor avícola daqui.
Esse será um dos eixos do nosso projeto de
informação: alcançar definições em comum que nos
permitam atuar, não só na realidade presente,
mas também a longo prazo para mudar a realidade
em todo o setor. Para isso, esta cooperação é
essencial.
Claro que participaremos da campanha
internacional da UITA com todas as nossas
forças, porque essas mudanças não devem ser
somente no Brasil e na Finlândia,
mas em todo o mundo.
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