A greve da dignidade político-sindical
Hoje, 14 de maio, enquanto escrevo esta
coluna, o setor trabalhista bananeiro de
Urabá (Antioquia) mantém oito dias de
mobilização unitária e de árduo esforço
no “enclausuramento” das fazendas
produtoras e dos escritórios
empresariais que estão dispersos no eixo
bananeiro e na capital antioquenha.
Esta é a greve da dignidade
político-sindical
porque, enquanto em uma negociação
coletiva o normal é que sejam defendidas
as propostas estabelecidas na Pauta de
Reivindicações, a ofensiva política dos
empresários fez com que o
SINTRAINAGRO passasse a proteger as
conquistas adquiridas e se pusesse
radicalmente contra a pretendida
abertura das cooperativas de trabalho
associado e/ou a terceirização
remunerada, em ambos os casos, em
condições abaixo das mínimas definidas
pela OIT como Trabalho Digno.
Nós, trabalhadoras e trabalhadores
bananeiros, nos encontramos frente a uma
greve instigada e premeditada pelos
empregadores e pela comercializadoras,
com a falsa argumentação de que as
consequencias da crise econômica global
no setor os impedem de assumir as
demandas de nossa Pauta de
Reivindicações.
Sustentando semelhante falácia,
dilapidaram o tempo definido pela lei
para a negociação direta e se negaram a
aceitar uma prorrogação do diálogo, como
estabelece a mesma lei, empurrando o
Sindicato para a fase da pré-greve,
sobre uma base de cálculos errados.
Pensaram que, atemorizados pela intensa
campanha que realizaram através dos
meios de comunicação radiofônicos e
impressos da região, os trabalhadores e
as trabalhadoras não votariam pela
greve, mas a resposta foi contundente:
97,3 por cento dos votos foram
favoráveis à greve.
A solidez unitária do Sindicato e de sua
Direção na condução do conflito
desorientou os porta-vozes empresariais
na Mesa de Negociações, os quais
terminaram oferecendo o triste
espetáculo de sua divisão interna,
confirmando, uma vez mais, que eles são
os únicos responsáveis pela greve e,
portanto, não serão os trabalhadores e
as trabalhadoras que pagarão os seus
custos econômicos e políticos.
Escudando-se atrás de falsos efeitos da
crise mundial, as empresas bananeiras
pretenderam fazer pressão psicológica
sobre o Sindicato para justificar sua
reclamada mudança no modo de contratação
de trabalhadores e trabalhadoras, e a
exclusão de um importante número de
tarefas da Convenção Coletiva, em vez de
incorporá-las às demandas da Pauta de
Reivindicações.
A realidade é que, do setor produtivo
agrícola, quem menos pode se lamentar e
argumentar sobre uma crise é o bananeiro
pois, quando no final de 2008 o dólar
teve uma desvalorização importante, o
governo o subsidiou em várias
oportunidades para servir de paliativo
contra a queda no preço do produto,
junto com o dólar. Mas, quando este
subiu a tal extremo que esteve beirando
os 2.800 pesos (1,2 dólares americanos
aproximadamente), o aumento das
utilidades por exportação de banana foi
enorme, ao qual se agregou um lucro
ainda maior pois, enquanto o dólar
subia, também caía estrepitosamente o
preço do petróleo, o que significou uma
baixa inesperada nos custos dos insumos
químicos para pulverizações, o
combustível e outras necessidades
inerentes à produção da banana.
Os empresários bananeiros, organizados
na AUGURA, apostaram na geração
do conflito com o objetivo irresponsável
de destruir o Sindicato. Para isso,
desencadearam várias ações:
·
romperam a única negociação coletiva
existente na Colômbia no setor
privado e agrícola, por setor de
indústria;
·
retiveram, mesquinhamente, a última
quinzena salarial para confrontar os
trabalhadores com a organização
sindical;
·
influenciaram e manipularam o escritório
da Direção Regional do Ministério da
Proteção Social,
cuja funcionária, Fanny Wilches,
emitiu resoluções e cartas autorizando a
contratação de cooperativas e
trabalhadores temporários, com o
pretexto de dar manutenção às fazendas,
demanda rechaçada pelo Sindicato e
denunciada à Procuradoria Geral por se
constituir em uma aberta e descarada
prevaricação.
Parece-nos revelador do desejo das
empresas neste conflito, detalhar as
últimas horas do mesmo e os fatos
imediatamente posteriores.
A mesa de negociações, que começara a
funcionar à Zero hora, foi dissolvida às
4 da manhã e, às 07h30min, a diretora do
Ministério da Proteção Social já estava
convocando o Sindicato para adverti-lo
de que autorizava o trabalho de
contratadores e informar quais seriam as
penalidades caso o sindicato se
opusesse. Além disso, supostamente nas
três horas apenas transcorridas, já
havia obtido um volumoso estudo do
Instituto Colombiano Agrícola (ICA),
no qual pretensos técnicos definiam
quais tarefas deviam ser realizadas (90
por cento das atividades produtivas)
para evitar a deterioração das fazendas
devido à greve.
Isto comprova, de maneira flagrante,
como a medíocre funcionária fazia parte
da equipe dos empresários, em seu afã de
romper a greve e intimidar o Sindicato
com sanções imaginárias.
Estas trama e ação, premeditadas e
coordenadas entre os empresários e o
escritório do Ministério da Proteção
Social em Urabá, não prosperaram nem
prosperarão, pois os trabalhadores e as
trabalhadoras assumiram pleno controle
da greve, junto com suas lideranças.
Sabemos que um dos assuntos chave, a ser
levado em conta na Convenção que será
assinada, é deixar afirmado o precedente
da defesa inquebrantável, não só dos
direitos socioeconômicos que os
trabalhadores e as trabalhadoras merecem
por sua força de trabalho, mas também da
dignidade político-sindical, da vigência
da institucionalidade sindical e da
Convenção Coletiva como ferramentas
fundamentais na busca de uma relação
equilibrada e com equidade social entre
capital e trabalho.
|