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Carta Aberta ao Presidente da 
República do Peru Dr. Alan García 
  
Dirigimo-nos a V.Exa. para expressar 
nossa indignação e alarme diante dos 
fatos ocorridos em Bagua, 
durante os quais foram barbaramente 
reprimidas as mobilizações de 
comunidades indígenas que, há 50 
dias, vêm se expressando 
pacificamente. 
  
Em nosso continente conhecemos, 
porque já tivemos que sofrê-las, as 
consequências da violência exercida 
pelo Estado. Acreditávamos ser 
produto de épocas já superadas onde 
a sociedade era submetida ao férreo 
controle do ditador do momento. 
Neste caso, enquanto por um lado 
lamentamos todas e cada uma das 
vidas perdidas, por outro acusamos 
que essas mortes foram o resultado 
da repressão policial ordenada por 
um governo eleito democraticamente. 
  
Por isso, 
responsabilizamos V.Exa., o cabeça 
deste governo, por este deplorável 
episódio que, reiteramos, só 
encontra antecedentes nos períodos 
mais autoritários e antidemocráticos 
de nossa história.  
  
Queremos expressar, além disso, 
nossa total e completa solidariedade 
com as reivindicações das 
comunidades indígenas, que arriscam 
diariamente as próprias vidas em 
defesa do seu habitat ancestral, mas 
também na 
defesa dos interesses de toda a 
humanidade, especialmente de todas e 
todos os latino-americanos. O 
que ainda existe de selva amazônica 
constitui não só uma enorme riqueza 
material devido aos seus recursos 
naturais, mas também, e 
principalmente, um inestimável 
capital ecológico essencial para a 
sustentabilidade da região e do 
planeta. 
  
Por tudo isso, exigimos a imediata 
anulação dos decretos legislativos 
relacionados com a exploração 
comercial dos recursos naturais na 
selva peruana, que não fazem mais do 
que abrir o caminho para que as 
corporações transnacionais ingressem 
com facilidade, trazendo junto a sua 
ambição de lucro, cuja consequência 
é a conhecida esteira de devastação, 
contaminação e morte, afundando na 
pobreza 
aqueles países ricos em recursos 
naturais, mas com atores políticos 
incapazes de defender os interesses 
nacionais. 
  
Além disso, novamente queremos 
frisar que, desde o dia 20 de abril 
passado, o 
Sindicato Único dos Trabalhadores da 
Companhia Cervejeira AmBev 
Peru SAC (SUTAMBEV) de 
Sullana, está em greve por tempo 
indeterminado: último recurso legal 
na busca por uma solução para as 
suas justas reivindicações. 
  
Como é do 
conhecimento de V.Exa., uma 
Missão da UITA viajou ao Peru 
no final de maio, mantendo várias 
entrevistas, inclusive com 
representantes do Ministério do 
Trabalho, o que infelizmente não 
produziu qualquer avanço concreto no 
conflito provocado pela 
intransigência da transnacional
AmBev.  
  
Lamentamos profundamente que os 
trabalhadores da AmBev não 
tenham ainda recebido o amparo e o 
apoio que merecem em sua desigual 
luta, e destacamos que, como as 
comunidades indígenas de Bagua,
eles também defendem direitos 
básicos dos seres humanos, como é o 
caso dos direitos trabalhistas, 
garantindo uma vida digna para eles 
e suas famílias. Em ambos os casos, 
em Bagua por ação e em 
Sullana por omissão, o seu governo 
deixou claro estar determinado a por 
os interesses do capital estrangeiro 
acima dos direitos básicos daqueles 
que representa. 
  
Por tudo isso, junto com nossas 374 
organizações em 120 países, instamos 
V.Exa. a tomar urgentemente partido 
em favor dos mais fracos, daqueles 
que defendem os direitos 
básicos do povo peruano, como a 
soberania, a democracia, o diálogo, 
a paz e a vida. 
  
Sem mais, despedimo-nos de V.Exa, 
apresentando nossas 
cordiais saudações. 
 
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