Brasil

Pelas 40 horas semanais 

Centrais brasileiras realizam sua marcha unitária

nessa quarta-feira 11 

 

Na próxima quarta-feira 11, as centrais sindicais brasileiras e todas as Confederações do país farão uma marcha rumo a Brasília/DF, em apoio ao reiterado pedido de uma redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais. É esperada uma participação maciça. Sirel conversou sobre isso com Siderlei de Oliveira, da CONTAC e com Artur Bueno de Camargo, da CNTA. 
 


"Este é um momento de grande pressão empresarial, para que sejam retirados certos direitos que foram conquistados através da luta dos trabalhadores –explicou Siderlei de Oliveira, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação e Agroindústrias (CONTAC). 
 
A marcha da quarta-feira 11, pela redução da jornada para 40 horas –continuou Siderlei é uma reivindicação que tem muito a ver com a saúde no trabalho. Em todo o Brasil, neste momento, estamos trabalhando com ritmos muito intensos de produção, o que está gerando uma quantidade enorme de doentes e de inválidos. 
 
Uma jornada de trabalho mais curta reduzirá estes ritmos insuportáveis e gerará mais empregos. Essa é uma reivindicação apoiada e promovida por todas as centrais do país que esperam ter, nesta quarta-feira, a presença de 100 mil trabalhadores e trabalhadoras nas ruas de Brasília ", concluiu. 
 
Artur Bueno de Camargo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (CNTA), disse que "A atividade começará na terça-feira 10 com uma audiência pública no Senado, onde será abordada a questão da saúde dos trabalhadores da indústria de alimentos e no qual estaremos participando. 
 
Na quarta-feira 11 - ele acrescentou- realizaremos uma grande marcha que reunirá todas as organizações sindicais do Brasil, porque entendemos que esta questão da redução da jornada de trabalho não é exclusivamente de uma central ou de outra, mas que nos convoca a todos. 
 
Esta deve ser uma luta de todos os trabalhadores e trabalhadoras unidos. 
 
Entendemos que alcançar essa redução geral seria um passo muito importante, mas não é por isso que devemos deixar de considerar que há algumas atividades que exigem uma redução ainda maior, para 36 horas semanais, porque são tarefas penosas, extremamente exigentes, como os frigoríficos, as avícolas, os cortadores de cana, entre outras categorias", disse ele. 

 

Em Montevidéu, Carlos Amorín

Rel-UITA

10 de novembro de 2009

 

 

 

 

 

 

O que representa a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem redução de salários, para a classe trabalhadora e para o Brasil

 

1. Preservar e criar novos empregos de qualidade
A redução da jornada de trabalho é um dos instrumentos para geração de novos postos de trabalho e a conseqüente redução das altas taxas de desemprego. Se todos trabalharem um pouco menos, todos poderão trabalhar.

2. Jornada normal de trabalho muito extensa
A jornada normal de trabalho no Brasil é uma das maiores no mundo: 44 semanais desde 1988.

3. Jornada total de trabalho muito extensa
A jornada total de trabalho é a soma da jornada normal de trabalho mais a hora extra. No Brasil, além da extensa jornada normal de trabalho, não há limite semanal, mensal ou anual para a execução de horas extras, o que torna a utilização de horas extras no país uma das mais altas no mundo. Logo, a soma de uma elevada jornada normal de trabalho e um alto número de horas extras faz com que o tempo total de trabalho no Brasil seja um dos mais extensos.

4. Ritmo intenso do trabalho
O tempo de trabalho total, além de extenso, está cada vez mais intenso, em função de diversas inovações técnico-organizacionais implementadas pelas empresas (como a polivalência, o just in time, a concorrência entre os grupos de trabalho, as metas e a redução das pausas). Também em muito tem contribuído para essa intensificação a implementação do banco de horas (isso porque, nas horas de pico, os trabalhadores são chamados a trabalhar de forma intensa e nas horas de baixa demanda são dispensados do trabalho).

5. Aumento da flexibilização da jornada de trabalho
Desde o final dos anos 1990, verifica-se, no Brasil, um aumento da flexibilização do tempo de trabalho. Assim, às antigas formas de flexibilização do tempo - como a hora extra, o trabalho em turno, trabalho noturno, as férias coletivas -, somam-se novas - como a jornada em tempo parcial, o banco de horas e o trabalho aos domingos.

6. Aumento do número de doenças
Em função das jornadas extensas, intensas e imprevisíveis, os trabalhadores têm ficado cada vez mais doentes (estresse, depressão, hipertensão, distúrbios no sono e lesão por esforços repetitivos, por exemplo).

7. Condições favoráveis da economia brasileira
A economia brasileira apresenta condições favoráveis para a redução da jornada de trabalho e limitação da hora extra, uma vez que:

- o país apresenta crescimento econômico nos últimos cinco anos e com perspectivas positivas para os próximos anos;

- a inflação tem variações moderadas desde 2003;

- a economia encontra-se relativamente estabilizada (diminuição das taxas de inflação, equilíbrio na balança de pagamentos, superávit primário, crescimento econômico etc.);

- a redução da jornada de trabalho é uma política de geração de postos de trabalho com baixo risco monetário;

8. Baixo percentual dos salários nos custos de produção
Conforme dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 1999, a participação dos salários no custo da indústria de transformação era de 22%, em média. Fazendo as contas, uma redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais (de 9,09%) representaria um aumento no custo total de produção de apenas 1,99%.

Este percentual é irrisório se considerarmos que o aumento da produtividade da indústria, entre 1990 e 2000, foi de 113% e que, nos primeiros anos do século XXI, os ganhos de produtividade foram de 27%. Portanto, o grande aumento de produtividade alcançado desde 1988 (última redução da jornada de trabalho no Brasil) leva a um pequeno aumento de custo gerado pela redução da jornada de trabalho.

9. Baixo custo da mão-de-obra no Brasil
O custo da mão-de-obra no Brasil é muito baixo, comparado a diversos países, de
forma que a redução da jornada de trabalho não traria nenhum prejuízo à competitividade das empresas, sobretudo porque o diferencial na competitividade não está no custo da mão-de-obra, mais sim nas vantagens sistêmicas que o país oferece. Como um sistema financeiro a serviço do financiamento de capital de giro e de longo prazo, com taxas de juros acessíveis, redes de institutos de pesquisa e universidades voltadas para o desenvolvimento tecnológico, população com altas taxas de escolaridade, trabalhadores especializados, infra-estrutura desenvolvida, entre outras vantagens.

10. Criação de um círculo virtuoso
Além dos ganhos de produtividade verificados no passado e na conjuntura atual, eles devem continuar a acontecer no futuro, o que explicita a necessidade de a redução da jornada de trabalho ser permanente e contínua, acompanhando assim os ganhos de produtividade. Cria-se então, um círculo virtuoso, isto é, os ganhos de produtividade e a sua melhor distribuição estimulam o crescimento econômico que, por sua vez, levam a mais aumento de produtividade.

11. Apropriação dos ganhos de produtividade
A redução da jornada de trabalho é uma das possibilidades que os trabalhadores têm para se apropriarem dos ganhos de produtividade por eles produzidos.

12. Instrumento de distribuição de renda
A redução da jornada de trabalho é uma das formas de os trabalhadores se apropriarem dos ganhos de produtividade, logo, é um dos instrumentos para a distribuição de renda no país.

13. Opção por tempo livre ou por desemprego
No que se refere à relação entre aumento da produtividade, redução da jornada de trabalho e desemprego, dado que são necessárias cada vez menos horas de trabalho para produzir uma mercadoria, a sociedade pode optar entre transformar essa redução do tempo necessário à produção em redução da jornada ou em desemprego.

14. Tempo dedicado ao trabalho muito extenso
Além do tempo gasto no local de trabalho (em torno de 11 horas: sendo 8 de jornada normal +/- 2 de hora extra e +/- 1 de almoço), há ainda os tempos dedicados ao trabalho, mesmo que fora do local de trabalho, entre eles:

- o tempo de deslocamento entre casa e trabalho;

- o tempo utilizado nos cursos de qualificação que são cada vez mais demandados pelas empresas e realizados, normalmente, fora da jornada de trabalho;

- o tempo utilizado na execução de tarefas de trabalho fora do tempo e local de trabalho (que em muito tem sido facilitada pela utilização de celulares, notebooks e internet);

- o tempo que os trabalhadores passam a pensar em soluções para o processo de trabalho, mesmo fora do local e da jornada de trabalho, principalmente a partir da ênfase dada à participação dos trabalhadores, que os leva a permanecer plugados no trabalho, mesmo distantes da empresa.


15. Pouco tempo livre
Logo, em função do grande tempo ocupado direta e indiretamente com o trabalho, sobra pouco tempo para o convívio familiar, o estudo, o lazer, o descanso e a luta coletiva.

16. Perda do controle do tempo da vida
As diversas formas de flexibilização do tempo de trabalho, como a hora extra ou o banco de horas, além de intensificar o trabalho, têm como conseqüência a perda do controle por parte do trabalhador seja do tempo de trabalho ou do tempo livre. Isso porque, na maior parte dos casos, é o empregador que define quando o trabalhador irá trabalhar a mais ou a menos, sem consulta ou com um mínimo de aviso prévio, desorganizando assim toda a sua vida.

17. Qualidade de vida
Finalmente, a redução da jornada de trabalho irá possibilitar que os trabalhadores, produtores das riquezas do Brasil e do mundo, possam trabalhar menos e viver melhor. Até para que outras pessoas também possam ter acesso ao trabalho e à vida, para que possam viver e não apenas sobreviver.
 


 

Fonte: Nota Técnica nº 66 - Abril 2008 - Argumentos para a discussão da redução da jornada de trabalho no Brasil sem redução do salário - DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos.

 

 

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