Intransigência e anti-sindicalismo da AmBev
leva os trabalhadores à greve
Devido às
ameaças de demissão coletiva, às
perseguições vindas do gerente fabril Víctor Fernández e à
demora em resolver a Pauta de Reivindicações, o Sindicato
Único de Trabalhadores
da Companhia Cervejeira AmBev Peru, filial Sullana, (SUTAMBEV),
resolveu, em sua última Assembléia Geral, entrar em greve
exigindo que dêem atenção às suas reivindicações.
A Pauta de Reivindicações foi apresentada em novembro e,
apesar dos dirigentes do SUTAMBEV terem se esforçado
para chegar a um acordo com os representantes da empresa,
estes tinham a intenção de destruir o sindicato oferecendo
aumentos salariais de até 50 por cento para aqueles
trabalhadores que deixarem de ser sindicalizados.
“Nesta quarta-feira, 25 de março, diante de tabelião
público, levamos a cabo uma votação para decidir se íamos ou
não entrar em greve. A maioria (104) votou a favor da greve;
a votação foi secreta para que ninguém se sentisse coibido.
Cada um decidiu o que acreditou ser melhor. Sabemos que esta
medida de força afetará também os trabalhadores, mas não
temos outra saída”, disse para o Sirel, Manuel
Córdova, secretário geral do SUTAMBEV.
Da Assembléia Geral do sindicato participaram 122, dos 141
filiados que a organização reúne. Só 16 sindicalizados
expressaram seu desacordo com a greve, sendo que um voto era
viciado e o outro nulo. O ato foi acompanhado por um
tabelião público que deu fé à transparência e legalidade do
mesmo.
Com já quase quatro meses de negociação, os trabalhadores
“se sentem obrigados a fazer greve, medida de força que, de
acordo com as leis trabalhistas peruanas, é o caminho que
devemos seguir quando não há outra forma de entendimento com
a patronal”, explicou Córdova.
“Só foi possível seguir adiante todo este tempo, graças ao
apoio que o nosso Sindicato recebeu da UITA. Todos os
filiados estão muito agradecidos pela colaboração recebida,
já que somos trabalhadores que contamos com poucos
recursos”, acrescentou.
Ao se referir ao prazo de greve, o dirigente sindical
indicou que procederão de acordo com a lei, farão entrega de
um documento ao Ministério do Trabalho participando-lhe a
decisão da Assembléia Geral do SUTAMBEV. Enquanto
isso, tratarão de esgotar as negociações extra processo,
“pois uma greve afetará a todos. Está nas mãos da empresa
chegar a uma saída razoável”, afirmou o dirigente sindical.
Entre as ações dispostas para os próximos dias estão algumas
mobilizações na cidade de Piura, em frente à sede regional
do Ministério do Trabalho, para que seja dada a público a
situação vivida pelos trabalhadores da AMBEV e que os
meios de comunicação conheçam sua problemática.
Para esse dirigente sindical, no caso de não se chegar a
nenhum acordo, a greve estaria acontecendo nos primeiros
dias de abril “e, se for necessário, nos mobilizaremos até
Lima para que tornar pública a intransigência da empresa em
atender nossas reclamações”, pontualizou.
O SUTAMBEV quer, entre outras coisas, a homologação do
salário entre os operários não sindicalizados e os filiados
ao sindicato, pois os primeiros ganham em média 100 dólares
a mais.
Há cinco anos, a AmBev compete no mercado peruano com
a Brahma, sua marca bandeira, depois ampliou sua
carteira com a Zenda e, durante o fim de ano de 2008,
obteve bons resultados nas vendas. Nessa oportunidade,
anunciou que transferirá sua fábrica da Venezuela
para o Peru.
A Brahma se encontra entre as marcas de baixo preço,
mas o gerente geral da AmBev Peru, Cristiano
Sampaio, disse a um meio local que "não estamos
sacrificando margens, estamos tentando ser mais eficientes".
Os trabalhadores filiados ao SUTAMBEV esperam que
essa eficiência não tenha nada que ver com a negativa de
aumentar seu salário de acordo com a inflação, e que a
ameaça de demissão coletiva também não esteja dentro do que
se entende por ser eficaz.
A AmBev Peru faz parte da InBev, a
maior companhia cervejeira do mundo, e produz para o mercado
peruano as marcas Brahma e Zenda. Possui duas
fábricas: uma de cerveja e refrigerantes na localidade de
Huachipa, a poucos quilômetros de Lima, e uma exclusiva de
refrigerantes em Sullana, Piura, departamento localizado na
costa norte do Peru, a 981 quilômetros da capital.
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