Ao
contrário do que muitos acreditavam, o caso Dorothy
Stang não chegou ao fim com a pena de 27 anos de
prisão recebida pelo assassino confesso. No dia 10,
Rayfran das Neves Sales foi novamente levado a júri
popular em Belém, capital do Pará. O quarto
julgamento é uma solicitação da defesa de Sales que
pretende conseguir redução da pena e garantir sua
liberdade condicional.
A advogada de defesa, Marilda Cantal, tentará
desqualificar a condenação por homicídio qualificado
para que Sales seja condenado apenas por
homicídio simples. Se o pedido for acatado pelo
júri, o réu poderá ser condenado a, no máximo, 20
anos. A advogada deverá embasar seu pedido na
afirmação de que o réu não havia recebido dinheiro
para matar a missionária estadunidense, informação
contraditória ao que Sales havia dito nos
julgamentos anteriores. Cantal deverá unir
este pedido ao fato de Rayfran já ter
cumprido quatro anos de reclusão, trabalhar, estudar
e apresentar bom comportamento no presídio.
Caso o júri e o juiz Raimundo Moisés Alves Flexa,
presidente do 2º Tribunal do Júri de Belém aceitem a
nova versão, outra mudança acontece no caso:
Regivaldo Pereira Galvão e Vitalmiro Bastos
de Moura, fazendeiros acusados de serem os
mandantes do crime serão inocentados. No momento,
eles aguardam o julgamento em liberdade. Outro
partícipe do assassinato, Clodoaldo Batista,
que estava ao lado de Sales quando este
disparou os tiros, foi condenado a 17 anos de
reclusão.
"Como o Rayfran é assassino confesso
acreditamos que ele vai pegar pena máxima outra vez.
Estamos fazendo pressão é com a questão da
qualificadora, este é o problema. O crime foi de
mando, ele é um pistoleiro e nas primeiras
audiências já confessou que recebeu dinheiro para
matar. Por isso, queremos que ele seja novamente
condenado por homicídio qualificado e não simples.
Depois disso, aguardamos que no ano que vem seja a
vez do julgamento de Regivaldo, o Taradão, e
Vitalmiro", explica Dinailson Benassuly,
coordenador do Comitê Dorothy,
No mesmo dia do julgamento, o Comitê promoverá um
ato em frente ao Tribunal de Justiça do Pará, na
Praça Felipe Patroni, localizada na Cidade Velha, em
Belém. O evento terá início às 7h30 com celebração
inter-religiosa "O julgamento começa às 8h. Antes,
vamos colocar algumas faixas, banners e barracas na
praça e depois da celebração vamos para o
julgamento. Como não será possível que todos do
Comitê assistam vamos ficar nos revezando. Outra
parte ficará ocupando o Fórum", fala Dinailson.
Histórico
Irmã Dorothy foi assassinada em 12 de
fevereiro de 2005, na cidade de Anapú, localizada ao
Sudeste do Estado do Pará. A missionária
estadunidense, naturalizada brasileira, que na época
tinha 73 anos, foi baleada seis vezes em uma estrada
de terra. O crime aconteceu porque Dorothy Stang
sonhava com um desenvolvimento sustentável para a
Amazônia e lutava ativamente contra a grilagem
nestas terras.
O Comitê Dorothy surgiu logo após o assassinato da
missionária Irmã Dorothy Mae Stang. Além de
exigir a condenação dos assassinos, mandantes e
intermediários do crime, ativistas, religiosos,
religiosas e jovens estão unidos pelos mesmos
objetivos da missionária: construir uma cultura de
paz por meio do comprometimento na defesa dos
direitos humanos e da justiça ambiental na Amazônia.
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