“Não
foi uma simples raiva que Raifran sentia por
Dorothy o que o motivou a matá-la, foi sim,
uma promessa de R$ 50.000,00, financiado por um
consórcio de fazendeiros, grileiros e outros, na
verdade Raifran só precisa confessar os nomes
dos mandantes. É isso que esperamos deste
julgamento, que o júri entenda que uma condenação
não será somente de Raifran, será sim de toda
essa rede de crimes e criminosos organizados no
nosso Estado do Pará”.
A afirmação faz parte da nota emitida pelo Comitê
Dorothy Vive Sempre, 02-12-2009, tendo presente o
julgamento de Raifran das Neves Sales que
acontecerá no dia 10 de dezembro no Tribunal de
Justiça do Pará.
Eis a nota.
Caso Dorothy Stang e Amazônia sustentável
Não foi Dorothy Stang e os colonos,
trabalhadores e suas famílias, interessados em
projetos de desenvolvimento sustentável da Amazônia,
que se puseram no caminho de “fazendeiros” ou
“legítimos donos” de terras na região do Xingu.
Foram os crimes impunes conhecidos como escândalo da
SUDAM, operado por grupos criminosos
organizados - que por meio de violência armada
invadiram e usaram lotes grilados das Glebas Belo
Monte, Bacajá, Mandacuari para fraudes milionárias
que se atravessaram com armas, pistoleiros,
intimidação, corrupção com apoio político, nos
projetos e idéias de sustentabilidade nas terras da
Transamazônica.
Em 2003 e 2004, Dorothy Stang estava
encurralando a teia criminosa de devastadores e
operadores de negócios ilícitos de todo o tipo nas
glebas da Transamazônica ao fazer a advocacia
pública de respeito aos povos e a sustentabilidade
no uso da terra, na organização e do respeito aos
direitos de suas populações. Ao lado da defesa, dos
esforços de educação e capacitação civil das
comunidades, a professora e missionária Stang
documentava e buscava instituições para denunciar
com rigor os desmandos e violências, as fraudes, a
rede de devastadores que usavam dinheiro público.
Uma documentação preciosa. Sua pasta furada por uma
das balas assassinas carregava acompanhamentos
processuais de uma dezena de fraudes, estabelecendo
elos entre violência, resistência de fraudadores a
cumprir decisões judiciais, mapas e documentos
oficiais.
Foi com base neste acervo que em novembro e dezembro
de 2008, se produziu um Relatório Cidadão - Indícios
de fraude documental, uso de laranjas, grilagem de
terras públicas no Lote 55, local do crime contra
Dorothy Stang. A Congregação de Notre Dame de
Namur e entidades do movimento social de Anapu
apresentaram denúncia ao Ministério Público Federal
e Estadual do Pará. As afirmações e os documentos,
foram comprovados em inquérito da Polícia Federal.
Resultaram no indiciamento do mandante principal por
estelionato e grilagem de terras públicas.
Desmontaram a principal linha de defesa dos acusados
em relação a pretendida desqualificação do crime
premeditado.
Contribuíu para a histórica decisão, em maio
passado, dos Desembargadores da Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça do Pará em atender ao pedido o
Promotor Público para a anulação dos dois júris
realizados em 2008 que deram liberdade a
Vitalmiro Bastos e retiraram agravantes na
condenação do atirador contratado Raifran das
Neves. Um momento inédito na Justiça do Pará.
O grupo criminoso de fraudadores e ladrões de
dinheiro público na região de Altamira tem as mãos
sujas de sangue na operacionalização das fraudes da
Sudam. Dorothy Stang, como outros defensores
dos povos e da Amazônia, estava atravessada desde o
final dos anos 90 em seus intentos criminosos. Foi
feita a recuperação de um dos livros-caixa dos
fraudadores, assim como indicações onde poderão as
autoridades, se quiserem, encontrar mais provas dos
crimes. Localizamos cópias de documentos que
estabelecem conexões em Brasília.
Com ele, pode-se expor o planejamento criminoso, as
ações de quadrilha, a sofisticada fraude documental,
a invasão criminosa de terras, o uso de informações
privilegiadas de instituições públicas, e fatos
inéditos que ligam uso de dinheiro público roubado
para montar operações de limpeza de moradores em
terras públicas. Não apenas no lote 55, local e
suposto motivo do assassinato de Dorothy Stang.
Com a exposição acima, está provado que não foi uma
simples raiva que Raifran sentia por
Dorothy o que o motivou a matá-la, foi sim, uma
promessa de R$ 50.000,00, financiado por um
consórcio de fazendeiros, grileiros e outros, na
verdade Raifran só precisa confessar os nomes
dos mandantes. É isso que esperamos deste
julgamento, que o júri entenda que uma condenação
não será somente de Raifran, será sim de toda
essa rede de crimes e criminosos organizados no
nosso Estado do Pará.
|