Em 2000, estimativas apontavam a existência de entre 20 mil e 30 mil
trabalhadores escravos no Brasil. Desde então até o mês passado, mais de
24 mil foram resgatados. Mas as contas não são simples, pois há
indicações de que o país ainda tem pelo menos 25 mil, dos quais 12 mil
estariam no Pará, o campeão nacional em número de trabalhadores em
regime de escravidão.
“Essa é uma matemática cruel que revela a insuficiência das ações contra
a escravidão por parte do Estado brasileiro. Não estamos conseguindo
diminuir esses índices, quanto mais erradicar esse crime contra a
humanidade que fere a todos”, disse Ronaldo Marcos de
Lima Araújo, coordenador da Pós-Graduação do Centro de
Educação da Universidade Federal do Pará (UFPA).
“O Pará é o estado que mais recebe denúncias”, afirmou em conferência na
59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC),
na semana passada, em Belém. Os dados são da Organização Internacional
do Trabalho (OIT) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
O trabalho escravo é considerado crime pelo artigo 149 do Código Penal
Brasileiro.
Segundo Araújo, o Pará responde por 60% dos resgates realizados
no país. Em 2003, houve 4.556 denúncias de trabalho escravo no estado e
1.774 trabalhadores foram resgatados, sendo que 43% deles estavam na
pecuária, 28% em atividades de desmatamento e 24% na agricultura.
“Em média, são investigadas 37% das denúncias, sendo que quase a
totalidade resulta em ações que libertam o trabalhador dessa situação e,
evidentemente, quanto mais a sociedade se mobiliza, mais efetiva é a
ação do Estado em resgatar trabalhadores”, disse.
Segundo Araújo, 2003 foi o ano com maior registro de operações de
resgate por parte do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e de
pagamento de indenização para os resgatados. “Os números de 2003 são
explicados pelo lançamento da Campanha Nacional de Combate ao Trabalho
Escravo, o que comprova o efeito positivo da mobilização da sociedade
organizada. Desde então, houve uma estabilização no número de
denúncias, operações e trabalhadores resgatados.”
O caso mais recente no Pará ocorreu em uma fazenda no município de
Ulianópolis, a 400 quilômetros de Belém, em que 1.108 trabalhadores que
faziam a colheita e plantio da cana-de-açúcar foram resgatados pelo
grupo móvel de fiscalização do MTE e pela Polícia Federal.
No Brasil, o número de trabalhadores libertados passou de 84 indivíduos
em 1995 para 1.174 em 2001, 2.306 em 2002 e 4.932 em 2003. De 1995 a
2003, enquanto foram libertados 24 escravos em Minas Gerais, o estado
que menos registrou ocorrências, o Pará libertou 4.571, seguido por Mato
Grosso (1.923), Bahia (1.089), Maranhão (624) e Tocantins (438).
Thiago Romero
Amazonia
17 de julho de 2007