Udo Wahlbrink, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura de
Vilhena, no estado de Rondônia, permaneceu mais de oito meses preso por apoiar a
luta pela terra. Seu caso chegou até o Supremo Tribunal Federal que, na semana
passada, ordenou sua liberação. Lázaro Dobri, presidente da Federação dos
Trabalhadores na Agricultura de Rondônia (FETAGRO), filiada à CONTAG, explicou
ao Sirel em que contexto se desenvolve este conflito social.
-Qual foi o processo que levou à prisão de Udo?
-Esta região sul de Rondônia tem muitos conflitos pela terra, em virtude de que,
durante a ditadura militar, uma grande parte da região foi leiloada e entregue
aos compradores junto a um documento obrigando-os a produzir antes de cinco
anos.
Na
realidade, os latifundiários só cortaram a madeira de valor e deixaram o resto
sem tocar.
Foi assim que, décadas depois, considerando que legalmente essas terras não têm
dono, porque os termos peremptórios do leilão não foram respeitados,
agricultores sem terra começaram a se instalar nelas.
As 40 famílias de agricultores desalojadas ficaram nas estradas, sem
comida, sem água. E em outras regiões ocorre exatamente a mesma coisa.
Tudo passa pelas mãos de uma juíza chamada Sandra Beatriz Merenda.
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-O
que foi que fez com que esta situação mudasse?
-A
chegada da soja e do gado fez com que aqueles compradores, seus descendentes ou
seus advogados e tabeliães tirassem o pó dos documentos já sem valor e os
apresentassem à justiça, reivindicando a propriedade das terras, agora sim
cultivadas. Uma justiça tendenciosa e uma Polícia servil fizeram o resto.
-O que aconteceu?
-De
repente apareceram os supostos donos da terra e as famílias foram expulsas. A
maioria delas vivia nestas terras há 14 ou 15 anos. A ordem judicial estabelecia
que os desalojados permanecessem a mais de 20 quilômetros da área em disputa.
-
Por que Udo foi detido?
-Ele
é o presidente do Sindicato local e, entre suas funções, estão as de organizar e
coordenar a luta pela terra. No final de abril passado eles reocuparam a
terra e, por isso, a Policia acusou Udo de promover a desordem pública, de
formar bandos, e foi detido.
Recorremos ao pedido de habeas corpus em duas ocasiões, aqui no estado de
Rondônia, mas a liberdade lhe foi negada.
Finalmente, no dia 13 de novembro passado, o caso foi analisado pelo Superior
Tribunal de Justiça (STJ), que determinou a sua imediata liberação. É
importante destacar que a CONTAG e a CUT contrataram um advogado penal
especialista em habeas corpus.
Mesmo assim, ele só foi liberado pela polícia no dia 15 de novembro, dois dias
depois da resolução judicial.
-Qual foi a reação local em Rondônia?
-No
mesmo dia da sentença do STJ em Brasília, e depois de o haverem mantido
preso durante oito meses, o Ministério Público de Rondônia entrou com uma
ação contra Udo, pedindo 18 anos de prisão para ele e outros militantes acusados
de vários delitos.
Há ameaças, há
agressões, há pistoleiros a serviço dos
latifundiários. Já tínhamos pedido proteção policial para o Udo bem
antes de ele ser preso. |
-Por que ocorre essa perseguição tão absurda ?
-Porque aqui o agronegócio atua brutalmente, e a justiça é parcial. Três dias
antes de o Udo ir para a prisão, o governador do estado leu, em ato público, uma
carta dizendo ter sido escrita pela Confederação Nacional de Agricultura (CNA)
que representa os latifundiários. Nessa carta a CNA exigia a prisão dos
camponeses que lutam pela terra, e o governador não se sentiu nem um pouco
constrangido de lê-la em público.
-Não há justiça real, então…
-Qualquer
ação que a CNA inicie na justiça contra as ocupações é decidida no mesmo dia,
sistematicamente para organizar o desalojamento, sem considerar que as famílias
vivem lá há dez anos, que há crianças que vão à escola, que foram construídas
moradias e que a terra está sendo cultivada.
Nada
disso importa para a justiça. As 40 famílias de agricultores desalojadas
ficaram nas estradas, sem comida, sem água. E em outras regiões ocorre
exatamente a mesma coisa. Tudo passa pelas mãos de uma juíza chamada Sandra
Beatriz Merenda.
-Existem ameaças de morte?
-Há
ameaças, há agressões, há pistoleiros a serviço dos latifundiários. Já tínhamos
pedido proteção policial para o Udo bem antes de ele ser preso.
Agora pedimos novamente porque sabemos que está marcado para morrer.
Nestes dias estamos tentando evitar que saia sozinho ou que se exponha.
-
O que acontecerá agora, judicialmente?
-Se
a juíza Merenda aceitar a denúncia do procurador, Udo e os demais
companheiros terão que enfrentar outro processo.
Será uma luta árdua, mas sabemos que, como em todos estes meses, contaremos com
o apoio da CONTAG, da CUT e da UITA, que deu difusão internacional a este caso.
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