Um tribunal norte-americano concluiu que
a Dole sabia das lesões que o agrotóxico
provocava nos seres humanos,
e o usou por “razões comerciais”.
Um tribunal da Corte Superior dos Angeles (EUA)
decidiu, no dia 8 de novembro passado, que a empresa
Dole
agiu intencionalmente e com fraude contra cinco dos doze
camponeses que entraram com um processo contra a referida
companhia por terem ficado estéreis ao serem expostos a um
agrotóxico, em suas propriedades rurais de plantações de
bananas na Nicarágua.
No caso Téllez versus
Dole,
o tribunal também considerou culpada a
Dow
Chemicals,
empresa produtora do agrotóxico Dibromo-cloropropano (DBCP)
incluída no processo, por haver causado a perda permanente
de uma função vital no corpo dos camponeses.
Três dias antes, na primeira fase do julgamento, o tribunal
determinou que a
Dow Chemicals
e a empresa
Dole
deveriam pagar um total de 3,3 milhões de dólares a seis dos
12 trabalhadores demandantes. O tribunal deve determinar,
ainda, se cabem outras punições às duas empresas.
“Estamos satisfeitos em nome de nossos clientes, por que
finalmente chegou o dia da
Dole
na Corte, e porque ela finalmente teve que prestar contas do
que fez”, disse em uma entrevista coletiva Duane Miller,
advogado dos 12 trabalhadores nicaragüenses.
Miller expressou sua satisfação pelo veredicto, no
qual ficou estabelecido que a empresa sabia do dano que
causaria nos camponeses que trabalhavam expostos aos efeitos
do DBCP. “O último veredicto do tribunal dará um
significado a isso, e somente alguns dos meus clientes
deverão ser escolhidos para uma compensação por danos
punitivos; mas a conduta de Dole justifica isso
totalmente”, acrescentou.
O lucro justifica o crime
Miller
expôs na terça-feira, diante dos membros do júri que, apesar
de ter sido proibido nos EUA, em 1977, o uso do DBCP,
porque diversos estudos comprovaram que provocava
esterilidade parcial ou total em seres humanos, os
executivos da empresa
Dole
decidiram continuar utilizando-o na América Central
“por razões comerciais”.
“Em 1977 a companhia Del Monte -também
norte-americana e concorrente da Dole- deixou de usar
o DBCP; mas na
Dole
continuaram usando-o até a última gota”, garantiu Miller.
“Com isso estavam tomando uma decisão que impactaria a vida
de outros”, destacou.
A principal razão, para o ditame do júri, é que a
Dole
não avisou os trabalhadores das plantações de bananas que o
DBCP poderia lhes causar esterilidade, apesar da
companhia já saber disso.
Por outro lado, Gennaro Filice, um dos advogados da
Dow
Chemicals,
utilizou certo grau de cinismo ao expressar na entrevista
coletiva que “a companhia está satisfeita porque,
depois de quatro meses do júri ter escutado as provas,
concluiu que seis dos demandantes não sofreram lesão por
causa do DBCP”. Da declaração se infere que a
Dow Chemicals
aceita satisfeita ser meio-criminosa daquilo que era acusada.
De sua parte, segundo a agência EFE, Michael
Carter, vice-presidente da
Dole,
mostrou sua “repulsa e rechaço” pela decisão do júri.
O descrito até aqui nos poupa qualquer comentário.