Apontado como um dos mandantes do assassinato da
missionária americana
Dorothy Stang,
em 2005, o fazendeiro
Regivaldo Pereira Galvão
foi condenado a 30 anos de prisão, em julgamento que
terminou na madrugada de ontem, em Belém. Conhecido
como Taradão, o fazendeiro é o último dos cinco
acusados pelo crime a ser julgado. Três dos
condenados, entretanto, já cumprem a pena em regime
semiaberto. A freira, naturalizada brasileira,
morreu com seis tiros em uma estrada de terra de
Anapu, distante cerca de 300km de Belém (PA).
Defensora de trabalhadores rurais, ela provocou a
insatisfação de fazendeiros ao condenar a grilagem
de terras e defender a criação de assentamentos na
região para agricultores de baixa renda.
Galvão
pegou 29 anos de prisão por homicídio duplamente
qualificado. O fato de a vítima ser idosa -Dorothy
tinha 73 anos- aumentou a pena em mais um ano. O
júri popular, formado por cinco homens e duas
mulheres, concluiu que a ação do fazendeiro ocorreu
para atender sua “cobiça e ambição pessoal”. A pena
será cumprida em regime fechado, sem direito a
apelar em liberdade. O resultado do julgamento,
conduzido pelo juiz
Raimundo
Moisés Alves,
foi comemorado por amigos e familiares. O irmão da
missionária,
David
Stang,
afirmou que a família está muito feliz com o
resultado da sentença.
O promotor
Edson Cardoso
lembrou as declarações do pistoleiro
Amair da Cunha,
que apontou
Regivaldo
e
Vitalmiro Moura,
o
Bida,
como mandantes do crime. O magistrado reforçou a
tese de homicídio qualificado, com motivo torpe,
promessa de recompensa e uso de meios que impediram
a defesa da vítima. Os advogados de defesa,
entretanto, negaram a tese de coautoria do crime.
No julgamento, o fazendeiro afirmou que se encontrou
apenas uma única vez com a missionária, no segundo
semestre de 2004, quando deu carona para ela. O
advogado
Jânio Siqueira,
um dos defensores do fazendeiro, afirmou que
pretende recorrer da sentença.
Durante o julgamento, que começou na manhã de
sexta-feira e se estendeu pela madrugada, o juiz
precisou intervir aos gritos para evitar um
confronto físico entre integrantes do Ministério
Público e a defesa do acusado.
Como ficou
Cinco anos após o assassinato da missionária
Dorothy Stang,
73 anos, todos os envolvidos no crime foram julgados
e condenados pela justiça brasileira. Confira a
situação de cada um.
Vitalmiro Bastos de Moura,
o
Bida
Apontado como um dos mandantes do crime, foi
condenado a 30 anos de prisão em julgamento
realizado há duas semanas. O fazendeiro entregou-se
à polícia no mês passado, após uma liminar que o
mantinha em liberdade até o julgamento ser
derrubada.
Regivaldo Pereira Galvão,
o
Taradão
Último a ser julgado pela Justiça, recebeu pena
ontem de 30 anos de prisão.
Galvão
ainda não tinha sido julgado porque recorria a
instâncias superiores para não ser submetido ao júri
popular.
Rayfran das Neves,
o
Fogoió Réu
Confesso,
foi o autor dos disparos e recebeu pena de 27 anos.
Após ter cumprido três anos, passou ao regime
semiaberto.
Clodoaldo Batista,
o
Eduardo
O
pistoleiro pegou 17 anos de prisão por ter ajudado
Fogoió a executar a missionária. Também cumpre
regime semiaberto.
Amair Feijoli da Cunha,
o
Tato
Intermediário entre os pistoleiros e os mandantes do
crime, recebeu a sentença de 18 anos de prisão.
Tato cumpre a pena em regime semiaberto.
Repercussão internacional
A morte da missionária em fevereiro de 2005 teve
repercussão internacional e recebeu a atenção de
grupos de direitos humanos. O cineasta
norte-americano
Daniel Junge
produziu o filme "Mataram a irmã Dorothy", que
figurou entre os 15 pré-selecionados ao Oscar de
melhor documentário de 2009. Ontem, o resultado do
julgamento do fazendeiro
Regivaldo
Pereira Galvão
foi tema de reportagem publicada no site do jornal
The New York Times.
A matéria narra o trabalho realizado pela freira no
estado do Pará e afirma que o julgamento era visto
como “um teste decisivo para o
Brasil
pôr um fim à falta de leis que reina na região
amazônica”. Em 2005, sete meses depois do
assassinato da americana, o jornal publicou um
artigo do correspondente
Larry Rohter
afirmando que as promessas do governo brasileiro em
busca de uma solução para os conflitos agrários na
região não tinham sido cumpridas.
O bispo de Xingu, dom
Erwin Kräutler,
região à qual a missionária pertencia, comemorou a
decisão, mas
ressaltou que os conflitos agrários ainda são motivo
de tensão no estado. “Eu não considero (a
condenação dos acusados) um fim em si, porque o
sistema continua em vigor. Enquanto
não for feita alguma coisa para inibir a ganância e
a busca desenfreada de terras, a situação vai
continuar e logo mais vamos ter novas vítimas”,
afirmou o bispo, que recebe proteção da polícia
militar há quatro anos.
O religioso reconhece que a condenação dos cinco
envolvidos no crime representa um “passo
significativo” em busca de Justiça no campo. “Pelo
menos dessa vez não apenas quem apertou o gatilho
foi condenado.” Por questão de segurança, o bispo
não compareceu ao julgamento, em Belém. Avisado por
amigos da decisão, ele disse que a condenação do
fazendeiro não será comemorada em espaços públicos
de Anapu e de Altamira, onde a missionária atuava
com agricultores. “Não espere nenhuma repercussão
barulhenta. O povo está muito recolhido.”
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