Vergonhosa pressão contra a ANAIRC
A casa da presidenta é assediada por sindicatos brancos
“Indignidade” é a
palavra mais adequada para catalogar esta nova forma de pressão e ameaça
à presidenta da Associação Nicaraguense dos Portadores de Insuficiência
Renal Crônica (ANAIRC), organização filiada à UITA. Na manhã de hoje, 17
de Abril, a casa de Carmen Ríos foi assediada por umas trezentas
pessoas, muitos delas trabalhadores ativos do Engenho San Antonio, que
foram convocados por aqueles que se intitulam “sindicatos” brancos desta
empresa, propriedade da Nicarágua Sugar Estates Ltd (NSEL), integrante
do Grupo Pellas.
“Na
manhã de hoje, uma senhora filiada à ANAIRC me ligou de
Chichigalpa, para me avisar que os sindicatos brancos do Engenho San
Antonio e da Companhia Licoreira da Nicarágua estavam
organizando uma passeata até Manágua, para tratar de impedir o protesto
que diariamente fazemos em frente ao Edifício Pellas - comentou
Carmen Ríos a Sirel.
Como
não encontraram transporte para se mobilizarem, decidiram ficar em
Chichigalpa e organizar um plantão em frente à minha casa, supostamente
para protestar porque eu havia dito que nosso objetivo é o fechamento do
Engenho San Antonio, o que é totalmente falso.
Em
nossas afirmativas –continuou Ríos– nunca dissemos que queremos o
fechamento da empresa, só reivindicamos os nossos direitos pelos danos
causados à nossa saúde com a responsabilidade da empresa”.
Foram
aproximadamente umas trezentas pessoas que assediaram a casa da
presidenta da ANAIRC. Segundo fontes fidedignas, que presenciaram
esta nova vergonhosa forma de ameaça, estas pessoas foram pagas pelos
que se dizem “líderes sindicais”.
“Eles
pagaram entre 100 e 150 córdobas (5 a 7 dólares) para cada um que
participasse da passeata até a casa da presidenta da ANAIRC,
sendo o dinheiro destes mesmos lideres sindicais facilitado
pela empresa”, disse a fonte.
Para a
dirigente da ANAIRC o temor não foi tanto pela sua pessoa ou
pelas ameaças, que nestes últimos dias se multiplicaram, mas pela sua
menina que nesse momento estava sozinha em casa.
“Veio a
minha irmã e a levou, muito assustada com esta nova sem-vergonhice,
enquanto eu chamei de imediato a Polícia para que resguardasse o lugar e
enviasse, também, pessoal para o nosso acampamento em Manágua. Devo
reconhecer –manifestou Ríos– que a Polícia atuou de forma efetiva
e por isso agradeço pelo apoio que nos está dando, pois somos cidadãos e
cidadãs que queremos poder protestar, sem correr o risco de sermos
agredidas ou ameaçadas de morte, como aconteceu alguns dias atrás”.
Estes
fatos deploráveis deixam a descoberto o forte nervosismo da empresa, que
quis dar uma freada nos membros da ANAIRC, visando se contrapor à
forte campanha de solidariedade e apoio aos ex-trabalhadores açucareiros
portadores de IRC, que se desencadeou a nível nacional e
internacional.
A
ANAIRC está em alerta máximo e convocou todas as organizações, que
até o momento deram o seu apoio, para que se mantivessem atentas ao que
possa ocorrer nos próximos dias, “já que, como sempre, os ricos e
poderosos jogam os pobres para brigar entre eles, para ficar depois com
o lucro máximo, rindo daqueles que, ao final, são os que pagam o pato”,
concluiu a presidenta da ANAIRC.
Apoio da Itália
Ontem,
a Associação Itália-Nicarágua enviou uma carta de apoio à
ANAIRC e à sua respectiva presidenta.
“A
Associação Itália-Nicarágua, que há vários anos acompanha essa luta
para que se lhes reconheça o direito à indenização pelos danos causados
à sua saúde, e que contribui com um modesto apoio focado no tema saúde,
expressa sua solidariedade máxima à presidenta da ANAIRC,
Carmen Ríos, quem foi vítima, há dias atrás, de insultos vulgares e
até de ameaças de morte através de cartas e chamadas anônimas.
Sabemos
–continua a carta– que quando as formas de protesto e de luta são
incômodas para os interesses de sujeitos importantes, frequentemente as
reações se traduzem em ataques caluniosos e ameaças, buscando
desacreditá-las.
Acreditamos que o sofrimento dos ex-trabalhadores açucareiros do
Engenho San Antonio portadores de insuficiência renal crônica, de
seus familiares e das viúvas é algo que está na cara de todo o mundo.
Querer negar a realidade de uma relação direta entre esta doença e o uso
de agrotóxicos, que foram usados na produção de cana-de-açúcar, reflete
uma manobra indecente que desmascara a mesquinhez daqueles e daquelas
que dão esse tipo de declarações.
Apelamos a todas as organizações da sociedade civil nicaraguense e
internacional, ao governo da Nicarágua e a todos os cidadãos e cidadãs,
para que contribuam para defender o direito a protestar de forma
pacífica e democrática, sem ter que aguentar ameaças e que seja
garantida a segurança dos integrantes da ANAIRC, que estão
participando da manifestação em Manágua”, termina a carta de apoio
enviada da Itália.
|